Demasiado preguiçosa para escrever, mesmo que seja para ir aos álbuns.
O olhar espraia-se para dentro, os olhos semi-cerram-se e bocejo.
Dos álbuns falta-me o "As Vozes em Ti", do Daniel, que sob pseudónimo publicou em livro. Depois, é momento de fechar a caixa, que não se quis de Pandora.
Mas enquanto me espreguiço, plena de vontade de saltar para qualquer lado onde, com sol a bater, dormisse um pouco, penso que é hora de espalhar o Evangelho do novo pensamento e da minha nova escrita, esperando que alguém que já por aqui anda, se encha de coragem e venha aqui escrever, que encha este espaço com o seu enorme talento.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Do álbum URBANIDADES - III
" URBANIDADES
Liberta de pesos recentes, entrego-me à luz radiosa de uma Lisboa fervente de calor, encalorada ainda pelos amigos que me vieram surpreender. O fastio e o tédio, ou aquele spleen de que falava o António Nobre tinham tomado posse das minhas vontades. Nem o horror, numa noite destas, fria e tardia, me tinha acordado. O passeio que então eu fiz pela noite da cidade, saída de um autocarro quase vazio e cheio de silêncios, ali pela Praça da Figueira, vagueando à procura de pensamentos, enquanto me confrontava com os dormentes das portas e dos vãos das igrejas, fora revelador - vi aquilo que não quizera ver até então, mesmo à minha porta, pelas meias noites da vida : pessoas enroladas em cartões e jornais, com uma manta rasgada pelos pés ou a tapar a cabeça, para se não verem os rostos, garrafas vazias pelo passeio, sacos de plástico com restos de esmolas. Oprimida, arrastei-me até um metro próximo, para me levar para casa. O sono apagaria a memória. Hoje, o sol relembrou-me a vida, que se sente nos passeios e nas gentes com quem me cruzo. Às 4 da tarde, lá me meti no transporte para os correios e para os amigos, morrendo entalada em gente que abarrotava e perguntando-me que empregos, que trabalhos eles teriam para estarem cá fora àquelas horas, ouvindo as risadas e as conversas do futebol e da política, sim que isto da Câmara de Lisboa dá dichotes em todo o lado, aqueles ladrões são tudo o mesmo, só querem é sacar, só querem é tacho. Voltei à escrita, já noite, para me embalar no sorriso do encontro dos amigos, sonhando já com o dia que aí vem.
Lisboa, aos 17 de Março, a preparar outro dia"
Liberta de pesos recentes, entrego-me à luz radiosa de uma Lisboa fervente de calor, encalorada ainda pelos amigos que me vieram surpreender. O fastio e o tédio, ou aquele spleen de que falava o António Nobre tinham tomado posse das minhas vontades. Nem o horror, numa noite destas, fria e tardia, me tinha acordado. O passeio que então eu fiz pela noite da cidade, saída de um autocarro quase vazio e cheio de silêncios, ali pela Praça da Figueira, vagueando à procura de pensamentos, enquanto me confrontava com os dormentes das portas e dos vãos das igrejas, fora revelador - vi aquilo que não quizera ver até então, mesmo à minha porta, pelas meias noites da vida : pessoas enroladas em cartões e jornais, com uma manta rasgada pelos pés ou a tapar a cabeça, para se não verem os rostos, garrafas vazias pelo passeio, sacos de plástico com restos de esmolas. Oprimida, arrastei-me até um metro próximo, para me levar para casa. O sono apagaria a memória. Hoje, o sol relembrou-me a vida, que se sente nos passeios e nas gentes com quem me cruzo. Às 4 da tarde, lá me meti no transporte para os correios e para os amigos, morrendo entalada em gente que abarrotava e perguntando-me que empregos, que trabalhos eles teriam para estarem cá fora àquelas horas, ouvindo as risadas e as conversas do futebol e da política, sim que isto da Câmara de Lisboa dá dichotes em todo o lado, aqueles ladrões são tudo o mesmo, só querem é sacar, só querem é tacho. Voltei à escrita, já noite, para me embalar no sorriso do encontro dos amigos, sonhando já com o dia que aí vem.
Lisboa, aos 17 de Março, a preparar outro dia"
Do àlbum: URBANIDADES - II
"URBANIDADES
As pessoas, para mim são rostos. E olhos. Olhares. Mais nada. Nada representa o que vestem, ou se ornam, ou ostentam. O olhar. Apenas o olhar. Hoje, que recebo a troca de memórias rurais em Ruralidades que me enviaram, directas à alma mais do que à escrita, sinto que os rostos e os olhos das minhas pessoas, das pessoas onde me movo e onde me vivo, são, de facto, citadinas. A cidade tem cada vez mais idosos e cada vez menos velhos - os velhos, ou as velhas, de negro ataviadas, de lenço preto a tapar cabelos e a testa, todas viúvas, todas enrugadas, partidas pelo sol e pela vida, rosário nos dedos e lábios ligeiros em ladaínhas, desapareceram da minha cidade. Mesmo os velhos e as velhas que encontro diariamente nos meus transportes, transportam-se a todo o lado, menos às velhas da Ruralidade. Ou as ciganas. As ciganas que encontro cada vez mais no metro e que mostram decotes, já pouco têm a ver com as ciganas da minha juventude. Um dia aqui falarei da Amparo, cigana/Mulher ímpar da infância das minhas interrogações. Hoje, transportei-me num eléctrico, o 25, que recolheu uma cigana, das antigas, mulher para aí com uns 5o anos, à boa maneira antiga - todinha de preto, até no olhar. Um olhar triste mas que fulminava, fulgurante, enquanto fazia perguntas e remoía remoques de desagrado. Saiu antes de mim, sempre desagradada. Levou os desagrados com ela, ali para as beiras de Santos, à procura de outro transporte. Deixou-me o olhar.
Em Lisboa, aos 21 de Março, ouvindo o eléctrico lá fora. "
As pessoas, para mim são rostos. E olhos. Olhares. Mais nada. Nada representa o que vestem, ou se ornam, ou ostentam. O olhar. Apenas o olhar. Hoje, que recebo a troca de memórias rurais em Ruralidades que me enviaram, directas à alma mais do que à escrita, sinto que os rostos e os olhos das minhas pessoas, das pessoas onde me movo e onde me vivo, são, de facto, citadinas. A cidade tem cada vez mais idosos e cada vez menos velhos - os velhos, ou as velhas, de negro ataviadas, de lenço preto a tapar cabelos e a testa, todas viúvas, todas enrugadas, partidas pelo sol e pela vida, rosário nos dedos e lábios ligeiros em ladaínhas, desapareceram da minha cidade. Mesmo os velhos e as velhas que encontro diariamente nos meus transportes, transportam-se a todo o lado, menos às velhas da Ruralidade. Ou as ciganas. As ciganas que encontro cada vez mais no metro e que mostram decotes, já pouco têm a ver com as ciganas da minha juventude. Um dia aqui falarei da Amparo, cigana/Mulher ímpar da infância das minhas interrogações. Hoje, transportei-me num eléctrico, o 25, que recolheu uma cigana, das antigas, mulher para aí com uns 5o anos, à boa maneira antiga - todinha de preto, até no olhar. Um olhar triste mas que fulminava, fulgurante, enquanto fazia perguntas e remoía remoques de desagrado. Saiu antes de mim, sempre desagradada. Levou os desagrados com ela, ali para as beiras de Santos, à procura de outro transporte. Deixou-me o olhar.
Em Lisboa, aos 21 de Março, ouvindo o eléctrico lá fora. "
Do álbum: FRAGILIDADES
"
FRAGILIDADES
Cedi à tentação das lágrimas. Não, não era um episódio folhetinesco, daqueles que na minha infância lera sofregamente e de seguida, febril, vermelha de ansiedade, atirava fora, para ser devolvida ao rapaz na semana seguinte. Estas memórias são permanentes, intensas, porque representam os romances de cordel que desapareceram da minha vida. Mas não foi por eles ou algo semelhante que lágrimas me rolaram. Foi de puro choque, de grande emoção, por histórias e estórias de animais maltratados, violentamente maltratados,que há dias me contaram. A minha impotência revelou a minha enorme fragilidade. "
FRAGILIDADES
Cedi à tentação das lágrimas. Não, não era um episódio folhetinesco, daqueles que na minha infância lera sofregamente e de seguida, febril, vermelha de ansiedade, atirava fora, para ser devolvida ao rapaz na semana seguinte. Estas memórias são permanentes, intensas, porque representam os romances de cordel que desapareceram da minha vida. Mas não foi por eles ou algo semelhante que lágrimas me rolaram. Foi de puro choque, de grande emoção, por histórias e estórias de animais maltratados, violentamente maltratados,que há dias me contaram. A minha impotência revelou a minha enorme fragilidade. "
Do álbum : VERSATILIDADES
"
VERSATILIDADES
Um Mestre antigo disse : " Aqueles que alcançaram o Zen mantêm-se sempre livres, sem desejo e independentes".
"Aquietai os pensamentos na vossa mente. É bom fazer iso exactamente no meio da agitação. Quando estiverdes a trabalhar, penetrai nas alturas e nas profundidades".
Mestre Zen Yuanwu
Em Lisboa, no Zen, em 21 Março "
VERSATILIDADES
Um Mestre antigo disse : " Aqueles que alcançaram o Zen mantêm-se sempre livres, sem desejo e independentes".
"Aquietai os pensamentos na vossa mente. É bom fazer iso exactamente no meio da agitação. Quando estiverdes a trabalhar, penetrai nas alturas e nas profundidades".
Mestre Zen Yuanwu
Em Lisboa, no Zen, em 21 Março "
Do Álbum: URBANIDADES - I
"
URBANIDADES
Percorro diariamente a cidade no 27. Isto de se viver numa ponta de Lisboa e trabalhar na outra tem os seus encantos. Os fim de semana e os feriados proporcionam-me outras delícias, porque o 27 descansa e eu sou obrigada a mudar de trajecto, que varia conforme o tempo e a disposição.
Hoje a minha disposição era cinzenta e preguiçosa, enfiei-me logo no 60 para vir aterrar à porta do trabalho, sem andar a mudar de linha ou para o metropolitano, que também preenche muitas das divagações que me divertem nos percursos, a observar as gentes e os cheiros, a absorver as palavras e os gestos, muitas e muitas vezes inquietantes.
Hoje construí-me de velhos e velhas, saídos das cascas-casas com o sol magnífico que por aqui faz e um friozinho meio de rachar, porque já houve bem pior. Surpreendi-me logo na paragem de entrada, com duas velhas todas de negro, que me levaram de imediato aos hábitos da minha infância que ditavam ser obrigatório um luto carregado toda a vida, sob pena de desenvergonhice social cuscuvilhada nas vizinhas e porteiras. As duas velhotas não queriam o autocarro para nada, queriam o banco da paragem para, entre doenças e desgraças que contavam uma à outra, cheias de lástima entusiasmada, fazerem a sua reserva do sol e do calor que as iria aquecer à noite, cada poro da sua pele era um frasquinho de sol, qual botija de água quente para o corpo e para a alma. A avenida, tão larga que é, rejubilava à luz daquela hora, e a quietude sentia-se perturbada por dois ou três passantes, vagarosos, lá vai uma senhora a passear o cãozinho, e aqui na paragem as duas velhas entre as doenç as que lhes levaram os defuntos....E eu, tão distante disto tudo, a amaldiçoar os horários que nunca se cumprem e o autocarro que não chegava, mas lá chegou, cheio...de outros velhos e velhas que hoje saíram das suas cascas-casas para vir abarrotar o transporte, em molhinhos de gente que pouco sai e pouco passeia e que anda no autocarro ao domingo para ir ao cemitério. Pensei eu, que o 60 vai para o cemitério da Ajuda.
Encasulada no meu assento, de olhos fechados para dormitar fingidamente, antes que me pedissem o lugar, fui rodeada de vozes altas e risonhas, de conversas mais gritadas que faladas, que cada um ia entalado no meio de muitos, com telemóveis de filhos a perguntarem pela mãe, com projectos de passeios em amizades de grupo que, generosamente ali compartilharam bilhetes, que uns tinham e outros não...E, ai que tenho de me sentar, ai a minha perna não me larga! Ó dona Deolinda, atão nã tá milhor? Tome lá um bilhetinho dos meus, ó senhora, que eu tenho a mais, tenho é de me sentar para abrir a mala....Atão mas isto vai pela Baixa? Ah, é ao domingo, porque eu não tenho passado por aqui, olhando a Praça da Figueira ou o Largo da Câmara.
Deixando-os a falar e contentes porque eu deixava um lugar para eles, saí em Santos, no meio de música que uma banda debitava, não percebi bem o que era porque o compositor estava ser livremente distorcido pelos metais e pelos claxons dos carros, que queriam andar e não os deixavam, subi as minhas escadas e abri a varanda, de par em par, para deixar entrar um sol meio cristalino que não me aqueceu.
Em Lisboa, 6 Março, já à espera do dia 7. "
Já não sei ao certo se este álbum e outros que aqui trarei, são todos de 2004 ou já de 2005. Não interessa. É por aí.....
URBANIDADES
Percorro diariamente a cidade no 27. Isto de se viver numa ponta de Lisboa e trabalhar na outra tem os seus encantos. Os fim de semana e os feriados proporcionam-me outras delícias, porque o 27 descansa e eu sou obrigada a mudar de trajecto, que varia conforme o tempo e a disposição.
Hoje a minha disposição era cinzenta e preguiçosa, enfiei-me logo no 60 para vir aterrar à porta do trabalho, sem andar a mudar de linha ou para o metropolitano, que também preenche muitas das divagações que me divertem nos percursos, a observar as gentes e os cheiros, a absorver as palavras e os gestos, muitas e muitas vezes inquietantes.
Hoje construí-me de velhos e velhas, saídos das cascas-casas com o sol magnífico que por aqui faz e um friozinho meio de rachar, porque já houve bem pior. Surpreendi-me logo na paragem de entrada, com duas velhas todas de negro, que me levaram de imediato aos hábitos da minha infância que ditavam ser obrigatório um luto carregado toda a vida, sob pena de desenvergonhice social cuscuvilhada nas vizinhas e porteiras. As duas velhotas não queriam o autocarro para nada, queriam o banco da paragem para, entre doenças e desgraças que contavam uma à outra, cheias de lástima entusiasmada, fazerem a sua reserva do sol e do calor que as iria aquecer à noite, cada poro da sua pele era um frasquinho de sol, qual botija de água quente para o corpo e para a alma. A avenida, tão larga que é, rejubilava à luz daquela hora, e a quietude sentia-se perturbada por dois ou três passantes, vagarosos, lá vai uma senhora a passear o cãozinho, e aqui na paragem as duas velhas entre as doenç as que lhes levaram os defuntos....E eu, tão distante disto tudo, a amaldiçoar os horários que nunca se cumprem e o autocarro que não chegava, mas lá chegou, cheio...de outros velhos e velhas que hoje saíram das suas cascas-casas para vir abarrotar o transporte, em molhinhos de gente que pouco sai e pouco passeia e que anda no autocarro ao domingo para ir ao cemitério. Pensei eu, que o 60 vai para o cemitério da Ajuda.
Encasulada no meu assento, de olhos fechados para dormitar fingidamente, antes que me pedissem o lugar, fui rodeada de vozes altas e risonhas, de conversas mais gritadas que faladas, que cada um ia entalado no meio de muitos, com telemóveis de filhos a perguntarem pela mãe, com projectos de passeios em amizades de grupo que, generosamente ali compartilharam bilhetes, que uns tinham e outros não...E, ai que tenho de me sentar, ai a minha perna não me larga! Ó dona Deolinda, atão nã tá milhor? Tome lá um bilhetinho dos meus, ó senhora, que eu tenho a mais, tenho é de me sentar para abrir a mala....Atão mas isto vai pela Baixa? Ah, é ao domingo, porque eu não tenho passado por aqui, olhando a Praça da Figueira ou o Largo da Câmara.
Deixando-os a falar e contentes porque eu deixava um lugar para eles, saí em Santos, no meio de música que uma banda debitava, não percebi bem o que era porque o compositor estava ser livremente distorcido pelos metais e pelos claxons dos carros, que queriam andar e não os deixavam, subi as minhas escadas e abri a varanda, de par em par, para deixar entrar um sol meio cristalino que não me aqueceu.
Em Lisboa, 6 Março, já à espera do dia 7. "
Já não sei ao certo se este álbum e outros que aqui trarei, são todos de 2004 ou já de 2005. Não interessa. É por aí.....
O sitio também é dos Amigos - II
Não foi só a VARANDA.
AS VOZES EM MIM também me deram duas boas novas, ambas inesperadas. Uma (não sei se a primeira ou se segunda, e isto por mera cronologia) segue aí:
" De: Mia Couto <.....@......>
Data: Quarta-Feira, 30 de Junho de 2004, 8:16
Assunto: [ignorancia] Re: AS VOZES EM MIM
Cara Fernanda
È manhã clara em Maputo (as manhãs de Junho são as mais bonitas neste lugar). Estreei o dia lendo os seus versos. Não posso deixar de lhe agradecer ter tornado o dia mais claro, mais cheio de vozes e presságios. O seu poema tocou-me muito, isto eu lhe queria dizer.
Mia Couto "
Andei dias feliz. Imagina-se.....Mas nada mudou em mim. Continuei a ser a pessoa que já era. Mas a felicidade que este abraço me deu, renova-se a cada leitura.
AS VOZES EM MIM também me deram duas boas novas, ambas inesperadas. Uma (não sei se a primeira ou se segunda, e isto por mera cronologia) segue aí:
" De: Mia Couto <.....@......>
Data: Quarta-Feira, 30 de Junho de 2004, 8:16
Assunto: [ignorancia] Re: AS VOZES EM MIM
Cara Fernanda
È manhã clara em Maputo (as manhãs de Junho são as mais bonitas neste lugar). Estreei o dia lendo os seus versos. Não posso deixar de lhe agradecer ter tornado o dia mais claro, mais cheio de vozes e presságios. O seu poema tocou-me muito, isto eu lhe queria dizer.
Mia Couto "
Andei dias feliz. Imagina-se.....Mas nada mudou em mim. Continuei a ser a pessoa que já era. Mas a felicidade que este abraço me deu, renova-se a cada leitura.
O sitio também é dos Amigos - I
A VARANDA também deu "frutos" - Não foi só o VOZES em MIM", de que ainda não trouxe aqui duas memórias imperdíveis.
E é isso que representa tudo: a minha memória imperdível. A memória das palavras dos meus Amigos, as suas emoções e como reagiram a algo que nunca teve o propósito de lhes provocar reacções especiais.....
E a minha Amizade por eles é tão grande, que é aqui que estão e é aqui que eles vêm:
"A propósito do teu texto não resisti a escrever isto. Foi escrito obviamente a pensar em ti mas não sei muito bem porquê... Nem sei bem o que quer tudo isto dizer. Talvez seja apenas mais um disparate da minha cabeça!
Beijos
Pedro (Rapoula - o meu nome influencia-me demasiado para cometer a leviandade de o mudar...)
O Combóio ou A Varanda que via passar mulheres
Era manhã cedo em Lisboa e o comboio apitava na estação vomitando nas plataformas mulheres apressadas e homens distraídos. Mas aquele não era um combóio qualquer porque era um comboio especial. De todos os combois que conheço era provavelmente o mais especial que havia. Vinha dos mesmos sitios que os outros e ia para os mesmos sitios que os outros. Mas era especial no meio de todos porque nenhum ambicionava nada enquanto aquele ambicionava tudo. E o seu maior sonho era ser um barco e navegar pelos mares.Era manhã cedo em Lisboa e o comboio apitava na estação vomitando nas plataformas mulheres apressadas e homens distraídos. E no alto daquele prédio cor de tempos passados, uma varanda tímida espreitava as mulheres que passavam, apressadas, e sentia o íntimo desejo de ter nascido como elas, mutantes, velozes, portáteis!E sempre que era manhã cedo em Lisboa e o combóio apitava na estação, varanda e combóio trocavam sonhos e desejos vivendo entre os dois a partilha de uma fantasia que os transformava respectivamente em barco e mulher à deriva pelo mar. E riam-se da pressa das mulheres e da distracção dos homens que não percebiam nada e que não aproveitavam os barcos e os mares para fugir ou para sonhar!Desta rotina nasceu obviamente um amor enorme da varanda pelo combóio. E quando ele por alguma razão não vinha, a triste varanda perdia-se em divagações românticas e em ciúmes enlouquecidos, imaginando que o combóio era finalmente um barco e que alguma daquelas mulheres que ele transportava tinha descoberto o caminho directo para o seu coração... Aquele sofrimento era feroz e durava até à próxima manhã em que, cedo, o apito ecoava pela estação. Só os pássaros que por ali pousavam testemunhavam estes desvarios e por toda a cidade já se comentava a loucura da varanda que não percebia que era apenas uma varanda!Os tempos foram passando, o combóio foi fazer outras paragens e deu por si a fazer a linha do Estoril, ao lado do rio, e acabou mesmo por se esquecer que era comboio para se convencer que era um grande e forte barco, porque só via água!Quanto à varanda, essa foi enlouquecendo sozinha à medida que percebeu que nunca seria mulher. A útima vez que soube dela estava apaixonada por uma gaivota que ainda por cima só abusou da sua boa vontade. Hoje quando lá passo ainda olho para cima mas é raro a varanda reagir. Perdeu o juízo e agora vai deixando cair pedacinhos de si quando passa alguma mulher. Queria confortá-la mas não sei. O meu forte nunca foram varandas. "
E é isso que representa tudo: a minha memória imperdível. A memória das palavras dos meus Amigos, as suas emoções e como reagiram a algo que nunca teve o propósito de lhes provocar reacções especiais.....
E a minha Amizade por eles é tão grande, que é aqui que estão e é aqui que eles vêm:
"A propósito do teu texto não resisti a escrever isto. Foi escrito obviamente a pensar em ti mas não sei muito bem porquê... Nem sei bem o que quer tudo isto dizer. Talvez seja apenas mais um disparate da minha cabeça!
Beijos
Pedro (Rapoula - o meu nome influencia-me demasiado para cometer a leviandade de o mudar...)
O Combóio ou A Varanda que via passar mulheres
Era manhã cedo em Lisboa e o comboio apitava na estação vomitando nas plataformas mulheres apressadas e homens distraídos. Mas aquele não era um combóio qualquer porque era um comboio especial. De todos os combois que conheço era provavelmente o mais especial que havia. Vinha dos mesmos sitios que os outros e ia para os mesmos sitios que os outros. Mas era especial no meio de todos porque nenhum ambicionava nada enquanto aquele ambicionava tudo. E o seu maior sonho era ser um barco e navegar pelos mares.Era manhã cedo em Lisboa e o comboio apitava na estação vomitando nas plataformas mulheres apressadas e homens distraídos. E no alto daquele prédio cor de tempos passados, uma varanda tímida espreitava as mulheres que passavam, apressadas, e sentia o íntimo desejo de ter nascido como elas, mutantes, velozes, portáteis!E sempre que era manhã cedo em Lisboa e o combóio apitava na estação, varanda e combóio trocavam sonhos e desejos vivendo entre os dois a partilha de uma fantasia que os transformava respectivamente em barco e mulher à deriva pelo mar. E riam-se da pressa das mulheres e da distracção dos homens que não percebiam nada e que não aproveitavam os barcos e os mares para fugir ou para sonhar!Desta rotina nasceu obviamente um amor enorme da varanda pelo combóio. E quando ele por alguma razão não vinha, a triste varanda perdia-se em divagações românticas e em ciúmes enlouquecidos, imaginando que o combóio era finalmente um barco e que alguma daquelas mulheres que ele transportava tinha descoberto o caminho directo para o seu coração... Aquele sofrimento era feroz e durava até à próxima manhã em que, cedo, o apito ecoava pela estação. Só os pássaros que por ali pousavam testemunhavam estes desvarios e por toda a cidade já se comentava a loucura da varanda que não percebia que era apenas uma varanda!Os tempos foram passando, o combóio foi fazer outras paragens e deu por si a fazer a linha do Estoril, ao lado do rio, e acabou mesmo por se esquecer que era comboio para se convencer que era um grande e forte barco, porque só via água!Quanto à varanda, essa foi enlouquecendo sozinha à medida que percebeu que nunca seria mulher. A útima vez que soube dela estava apaixonada por uma gaivota que ainda por cima só abusou da sua boa vontade. Hoje quando lá passo ainda olho para cima mas é raro a varanda reagir. Perdeu o juízo e agora vai deixando cair pedacinhos de si quando passa alguma mulher. Queria confortá-la mas não sei. O meu forte nunca foram varandas. "
segunda-feira, 6 de abril de 2009
As Vozes em Mim
June 29, 2004 7:41 PM
AS VOZES EM MIM
Não sei quais as vozes em mim, as vozes de mim, as vozes para mim.
Não sei se sufoco, se domino, se estremeço.
Não sei se noite, não sei se sol...
Não sei as vozes, não sei os gritos, não sei os mudos.
As vozes gritam-me, ecoando uma voz que me parece minha, mas não é a voz, é o silêncio.
AS VOZES EM MIM
Não sei quais as vozes em mim, as vozes de mim, as vozes para mim.
Não sei se sufoco, se domino, se estremeço.
Não sei se noite, não sei se sol...
Não sei as vozes, não sei os gritos, não sei os mudos.
As vozes gritam-me, ecoando uma voz que me parece minha, mas não é a voz, é o silêncio.
A VARANDA
A VARANDA ou A MULHER QUE VIA PASSAR OS COMBÓIOS
Há qualquer coisa no ar que me incomoda. Não sei o que é, só sei o que sinto.
E neste discurso na primeira pessoa, me encontro encostada ao parapeito da minha varanda, fumando cigarro atrás de cigarro, deixando o pensamento vaguear e o olhar perder-se, na luz do fim da tarde que já não é fim de tarde mas ainda não é noite...
recosto-me contra a parede do prédio, sentindo nas pernas o roçagar do pêlo do meu gato, que salta repentinamente para o espaço que há um minuto eu ocupava, enquanto a gata me olha, com os seus grandes olhos azuis, belos e profundos, a questionar o silêncio da dona...
Estou em silêncio, silêncio de recolhimento por uma luz citadina que não o é, uma luz híbrida de rosas e lilás, onde o azul, os azuis se entrecruzam com os laranjas e deixo-me ir, sempre encostada contra a parede, a ver os laranjas a desmaiar e a tornarem-se cada vez mais dourados gloriosos.
Cigarro na mão, pensamento no combóio que, britânicamente, passa por baixo da minha varanda. Vinte e quatro horas por dia, os combóios passam, modernos ou nem tanto, bem de noite vem sempre o mercadorias, grande, lento, ronceiro, e
àquela hora, com a noite obscenamente a descer, rasgada, no céu, por traços de intenso laranja, pergunto-me o que farão as dezenas de pessoas que dentro dos combóios lá vão, para destinos que ignoro. Irão alegres, felizes ? Virão dos empregos ? Irão para quem ? Quem as espera depois da estação ?
quem estará ali, na minha estação, na estação da minha casa, à procura delas ? E porque sairão ali?
- Para irem a correr apanhar o metro, penso eu, sempre em solilóquio, sempre encostada ao varandim, e pensando vejo o Oscar a ser passeado pela dona, igual hoje ao que era há cinco anos - ele e a dona, iguais, iguaizinhos, no passeio, no andar, no vestir... e vejo os carros que por ali se abeiram, uns de passagem, breve e rápida com destinos certos e objectivos determinados, outros a procurar estacionamento, e vejo a rapariguinha negra que mal se aguenta nos saltos de dez centímetros,
e
por mais que eu não queira, sinto uma enorme vontade de rir, esquecendo-me, insensata, de quantas vezes rodopiei para me aguentar noutros de igual altura...
Mais um combóio, mais uma voz da menina da Fertagus a anunciar o combóio para o Fogueteiro na linha 4, mais um grupo de gente que sai e se mete, apressada pelo túnel e desaparece para sair já longe do meu olhar, três táxis que passam, a vizinha de cima que se lembra de vir sacudir o raio do tapete,
e que me faz recuar para não apanhar o lixo, pensando que aquilo não era vida para um ser vivente, acendendo mais um cigarro e voltando ao parapeito da minha varanda, para sentir que no ar há qualquer coisa que me incomoda e não sei o quê....
cigarro na mão e mão no varandim, lentamente percorro a minha varanda de uma ponta à outra, de trás para a frente, de frente para lá, olhos no alto, prescrutando os telhados dos prédios em frente, reparando nas luzes que já se vêm nas janelas, pressentindo o movimento das pessoas nas casas de divisão em divisão - Olha, ali está um tipo com um copo na mão; que giro! também vem para a varanda;a dele; e ali, há quem pendure roupa...vê-se que veio da praia, há calções e uma toalha; mais ali, abre-se uma janela, de par em par e a música está tão alto que consigo ouvi-la; não, não é música...é a televisão que está aos berros, santo Deus.
Mais meia hora se passou, a noite está aí, esplêndida, ao convite para os derrames da alma, com a serenidade das coisas belas e intranquilas, e sempre debruçada numa varanda diferente, a mesma mas diferente, reparo na chegada movimentada daquele grupo de automóveis de onde saiem, numa cadência ensaiada, homens e homens (onde estarão as mulheres que os irão acompanhar ? já estarão lá dentro?). O lá dentro é do outro lado da linha dos combóios que, também naquela mesma cadência ensaiada da voz da menina da Fertagus, continuam a chegar e a partir, na minha estação terminal...
A minha varanda dá para uma estação de combóios...Estou dentro de Lisboa, em cima de uma estação de combóios, que tem um jardim lindo do lado esquerdo e um jardim feio do lado direito. Felizmente, estou no lado esquerdo, penso eu, neste monólogo de ideias errantes, desta vez a olhar para o autocarro 27 que tem terminal no jardim feio.
Deve ser o último da noite, a carreira termina cedo, sempre monologando, sempre de cigarro nos dedos e sempre sentindo que há qualquer coisa no ar que me incomoda, mas ainda não sei o que é....
Não sei o que é....e só me lembro do desencanto de hoje e no encanto do meu ontem. Ah, pois, Maria (todas somos Marias, num dia qualquer das nossas vidas), penso eu com o ar da descoberta e o sorriso da Mona Lisa - são "Os Dias Felizes"...É o eterno Samuel Beckett a puxar por ti...
Tem graça...sinto-me mais à espera de Godot, continuo soliloquando, desta vez gozando comigo própria.
À Espera de Godot, lembrando os Dias Felizes enquanto Via Passar os Combóios...Maria, Maria, não tens cura! Tu e os teus trocadilhos, de que te havias de lembrar, o melhor que tens a fazer é ires dormir, que isso passa-te.
Mas não - os combóios continuam a passar, totalmente indiferentes aos meus pensamentos cheios de nicotina e vagar, de olhar lento perdido no azul intenso desta noite,
saindo da minha varanda e correndo para o computador porque descobri que já não sei escrever com caneta e papel...vagueando pela minha Lisboa, afastando-me das pessoas que enchem os passeios, sorrindo para as crianças que a esta hora ainda andam por aí, mão dada com os pais,
ouvindo ao longe ainda a voz da menina da Fertagus, cada vez mais e mais longinqua, subindo a escada, ligando a luz e o computador, abrindo de par em par outra varanda, outra varanda minha,
que já não me mostra o combóio, só a vida...e a noite...e os sons da vida e da noite...
pensando que há qualquer coisa no ar, esta noite, que me incomoda...e não sei o que é. Só sei o que sinto.
Fernanda Maria Gouveia
28 Junho 2004
Há qualquer coisa no ar que me incomoda. Não sei o que é, só sei o que sinto.
E neste discurso na primeira pessoa, me encontro encostada ao parapeito da minha varanda, fumando cigarro atrás de cigarro, deixando o pensamento vaguear e o olhar perder-se, na luz do fim da tarde que já não é fim de tarde mas ainda não é noite...
recosto-me contra a parede do prédio, sentindo nas pernas o roçagar do pêlo do meu gato, que salta repentinamente para o espaço que há um minuto eu ocupava, enquanto a gata me olha, com os seus grandes olhos azuis, belos e profundos, a questionar o silêncio da dona...
Estou em silêncio, silêncio de recolhimento por uma luz citadina que não o é, uma luz híbrida de rosas e lilás, onde o azul, os azuis se entrecruzam com os laranjas e deixo-me ir, sempre encostada contra a parede, a ver os laranjas a desmaiar e a tornarem-se cada vez mais dourados gloriosos.
Cigarro na mão, pensamento no combóio que, britânicamente, passa por baixo da minha varanda. Vinte e quatro horas por dia, os combóios passam, modernos ou nem tanto, bem de noite vem sempre o mercadorias, grande, lento, ronceiro, e
àquela hora, com a noite obscenamente a descer, rasgada, no céu, por traços de intenso laranja, pergunto-me o que farão as dezenas de pessoas que dentro dos combóios lá vão, para destinos que ignoro. Irão alegres, felizes ? Virão dos empregos ? Irão para quem ? Quem as espera depois da estação ?
quem estará ali, na minha estação, na estação da minha casa, à procura delas ? E porque sairão ali?
- Para irem a correr apanhar o metro, penso eu, sempre em solilóquio, sempre encostada ao varandim, e pensando vejo o Oscar a ser passeado pela dona, igual hoje ao que era há cinco anos - ele e a dona, iguais, iguaizinhos, no passeio, no andar, no vestir... e vejo os carros que por ali se abeiram, uns de passagem, breve e rápida com destinos certos e objectivos determinados, outros a procurar estacionamento, e vejo a rapariguinha negra que mal se aguenta nos saltos de dez centímetros,
e
por mais que eu não queira, sinto uma enorme vontade de rir, esquecendo-me, insensata, de quantas vezes rodopiei para me aguentar noutros de igual altura...
Mais um combóio, mais uma voz da menina da Fertagus a anunciar o combóio para o Fogueteiro na linha 4, mais um grupo de gente que sai e se mete, apressada pelo túnel e desaparece para sair já longe do meu olhar, três táxis que passam, a vizinha de cima que se lembra de vir sacudir o raio do tapete,
e que me faz recuar para não apanhar o lixo, pensando que aquilo não era vida para um ser vivente, acendendo mais um cigarro e voltando ao parapeito da minha varanda, para sentir que no ar há qualquer coisa que me incomoda e não sei o quê....
cigarro na mão e mão no varandim, lentamente percorro a minha varanda de uma ponta à outra, de trás para a frente, de frente para lá, olhos no alto, prescrutando os telhados dos prédios em frente, reparando nas luzes que já se vêm nas janelas, pressentindo o movimento das pessoas nas casas de divisão em divisão - Olha, ali está um tipo com um copo na mão; que giro! também vem para a varanda;a dele; e ali, há quem pendure roupa...vê-se que veio da praia, há calções e uma toalha; mais ali, abre-se uma janela, de par em par e a música está tão alto que consigo ouvi-la; não, não é música...é a televisão que está aos berros, santo Deus.
Mais meia hora se passou, a noite está aí, esplêndida, ao convite para os derrames da alma, com a serenidade das coisas belas e intranquilas, e sempre debruçada numa varanda diferente, a mesma mas diferente, reparo na chegada movimentada daquele grupo de automóveis de onde saiem, numa cadência ensaiada, homens e homens (onde estarão as mulheres que os irão acompanhar ? já estarão lá dentro?). O lá dentro é do outro lado da linha dos combóios que, também naquela mesma cadência ensaiada da voz da menina da Fertagus, continuam a chegar e a partir, na minha estação terminal...
A minha varanda dá para uma estação de combóios...Estou dentro de Lisboa, em cima de uma estação de combóios, que tem um jardim lindo do lado esquerdo e um jardim feio do lado direito. Felizmente, estou no lado esquerdo, penso eu, neste monólogo de ideias errantes, desta vez a olhar para o autocarro 27 que tem terminal no jardim feio.
Deve ser o último da noite, a carreira termina cedo, sempre monologando, sempre de cigarro nos dedos e sempre sentindo que há qualquer coisa no ar que me incomoda, mas ainda não sei o que é....
Não sei o que é....e só me lembro do desencanto de hoje e no encanto do meu ontem. Ah, pois, Maria (todas somos Marias, num dia qualquer das nossas vidas), penso eu com o ar da descoberta e o sorriso da Mona Lisa - são "Os Dias Felizes"...É o eterno Samuel Beckett a puxar por ti...
Tem graça...sinto-me mais à espera de Godot, continuo soliloquando, desta vez gozando comigo própria.
À Espera de Godot, lembrando os Dias Felizes enquanto Via Passar os Combóios...Maria, Maria, não tens cura! Tu e os teus trocadilhos, de que te havias de lembrar, o melhor que tens a fazer é ires dormir, que isso passa-te.
Mas não - os combóios continuam a passar, totalmente indiferentes aos meus pensamentos cheios de nicotina e vagar, de olhar lento perdido no azul intenso desta noite,
saindo da minha varanda e correndo para o computador porque descobri que já não sei escrever com caneta e papel...vagueando pela minha Lisboa, afastando-me das pessoas que enchem os passeios, sorrindo para as crianças que a esta hora ainda andam por aí, mão dada com os pais,
ouvindo ao longe ainda a voz da menina da Fertagus, cada vez mais e mais longinqua, subindo a escada, ligando a luz e o computador, abrindo de par em par outra varanda, outra varanda minha,
que já não me mostra o combóio, só a vida...e a noite...e os sons da vida e da noite...
pensando que há qualquer coisa no ar, esta noite, que me incomoda...e não sei o que é. Só sei o que sinto.
Fernanda Maria Gouveia
28 Junho 2004
Os evangelhos de 2004
2004 foi um ano fantástico. Não sei lá muito bem porquê; dele não retenho grande coisa na memória.
Mas guardei umas coisas que por aí, pelos blogues, andei a escrever.
Repesquei-as, que isto da escrita tem memória curta....como muito boa gente que conheço. Não me auto-homenageio, que as homenagens, elogios, loas e quejandos, me são de todo indiferentes.
As repescagens entram por 2005.
Virão, para aqui, como peças datadas, mas não cá dentro. É mais como uma escrita entremeada...Giro foi procurá-las nos arquivos e vê-las limpas dos blogues....Deu-me logo vontade de rir, sobretudo porque guardei os mails cheínhos dos tais elogios.....da época, claro, porque o efémero não o deixa de ser assim do pé para a mão.
Eu vou guardar o meu efémero.
Mas guardei umas coisas que por aí, pelos blogues, andei a escrever.
Repesquei-as, que isto da escrita tem memória curta....como muito boa gente que conheço. Não me auto-homenageio, que as homenagens, elogios, loas e quejandos, me são de todo indiferentes.
As repescagens entram por 2005.
Virão, para aqui, como peças datadas, mas não cá dentro. É mais como uma escrita entremeada...Giro foi procurá-las nos arquivos e vê-las limpas dos blogues....Deu-me logo vontade de rir, sobretudo porque guardei os mails cheínhos dos tais elogios.....da época, claro, porque o efémero não o deixa de ser assim do pé para a mão.
Eu vou guardar o meu efémero.
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